Sem Guarda-Chuvas

As vezes eu volto no tempo. É que dá vontade de contar sobre o melhor capitulo dessa minha estória. Então eu entro no quarto, abro aquela gaveta e procuro por nossas cartas. Se vocês tivessem a infelicidade de ler, talvez diriam:
— Como foi feliz este casal.



A boa noticia é que se vocês pensassem isso, estariam certos. Como foram felizes. Mas como a frase mesmo diz, foram. Virou passado. Hoje eu nem sei mais dela. As vezes eu volto ainda mais no tempo, pra te contar o inicio dessa nossa história e tentar te explicar o porque de tudo isso morar no passado distante hoje em dia. Eu me sinto o culpado. Sempre me pareceu que fazia muito frio durante a noite e ela vez ou outra me pedia um afago, afagos estes que as vezes, em meio a rotina, eu esquecia de dar. Ela se sentava do meu lado na calçada, enfiava a mão no meu cabelo desgrenhado, juntávamos dinheiro pro lanche, nos beijamos no cinema, voltávamos de mãos dadas para casa. Mas eu nunca sei ficar. E hoje me doí fundo na alma ao ler aquelas cartas que eu talvez nunca tenha merecido. As vezes eu sinto saudades. As vezes eu me sinto culpado. Hoje eu meio que me sinto bem, mas é como se na época eu tivesse dado um tiro no meu próprio coração e morrido antes daquele livro chegar ao final. Vivi um romance interrompido. Resolvi sumir num capitulo qualquer da história.