Sem Guarda-Chuvas

Já é como se não houvesse mais vida. Como se alguém tivesse metido a mão dentro do meu peito e arrancasse o coração. Deixado estragos. Eu merecia pelo menos ser enterrado debaixo de sete palmos no solo da saudade. O buraco no meu peito ardia. O vazio me preenchia. A respiração falhava. Já faziam horas que eu era só um corpo magro sobre a vegetação fria da depressão aqui de casa. Eu olhava pro céu. Eu conseguia sentir como a vida lidou comigo e como eu encarei todos os empurrões que ela me deu, dizendo: siga. Tem muita estrada pela frente. Continue a caminhar. Mas eu não encontrava força nas pernas. Então virava chuva e desaguava no mar. Lembro dos bons momentos, momentos em que eu ainda me sentia vivo, inteiro, tranquilo, mas depois eu tudo que eu fazia era transbordar pelos olhos. O sentimento que eu levava comigo era o de perda, a perda que me foi causada, a perda de um coração que foi roubado por alguém que nunca teve a intenção de dá uma destinação final adequada. Eu queria pelo menos ter a chance de doar os órgãos. Vou parar de graça. Não vou me permitir afundar. Estou me reerguendo. Um dia eu paro de sangrar.