Sem Guarda-Chuvas

Foi no verão passado. Eu me lembro. E como não lembrar? Se te toca alma. Toda aquela cidade era nova pra mim, eu mal conhecia as ruas que andava, eu mal conhecia as pessoas que ali viviam suas vidas normais. Andei durante toda aquela tarde escura a procura de um lugar pra ficar, acompanhado deste velho guarda-chuva vermelho e carregando essa minha mala tão vazia de objetos e cheia de saudades. Mas de repente, aquela velha árvore seca se estendeu na minha frente e eu sentei aos seus pés para descansar. Ela se encontrava no meio daquele parque quase abandonado. Sentei sobre as raízes daquela gigante, tão fortemente encravada no solo. E bem ali, entre as raízes, um papel envelhecido me chamou atenção. Demorei alguns segundos para retirá-lo de lá e quando realmente o tive na mão, percebi que era uma carta. Um carta perdida, uma carta nunca entregue, jamais lida.

Setembro de 1971.
Querido Zé, sei que nunca irá me entender, mas se você estiver lendo esta carta peço que tenha um pouco de paciência. Por favor, você tem que entender. Tu não pode ir embora agora. Espera eu criar coragem de ir junto também. Hoje eu não pude te esperar aqui, como de costume, mas amanhã, amanhã eu venho. Eu ainda não me programei pra fugir e espero que não se vá...
Com amor, Julie.