Ao entardecer...


- Você sumiu... – sua voz falhou na garganta.

Sobre este momento á três coisas pra ser dita: Primeira, não era um sonho; segunda, havia uma voz e por fim um menino.
Sobre ele, bem... estava sentado sobre um velho tronco de pinheiro caído. Muito adentro de uma floresta calada e sombria que fica nos fundos de sua casa.
- Não, eu não sumir... Só não pude vim mais cedo hoje.
- Sim, mas talvez, agora, poderia ser um pouco tarde. – ele fitou os galhos secos das árvores, numa paz de espírito que nada parecia abalar. – Sinto que estou desaparecendo, como uma pedra que afunda no mar, me entende...
-Tarde? Desaparecendo?... Por quê? – sorrio sem graça.
Se passaram alguns minutos, e nenhuma palavra em resposta pra sua pergunta. Mas em meio momento, ele se levantou e pousou-se em sua frente. Ele tinha aquele tipo de olhar mágico, que te deixa sem fôlego, até mesmo quando as coisas parecem surreais.
-Não percebe... A cada minuto que não se lembra de mim eu desapareço, são suas lembranças que me mantém vivo, aos poucos eu estou indo embora. Não me deixe ir... – dos seus olhos brotaram um fio de água  que mostravam seu desespero e depois calava.
- Mas eu estou aqui agora, estou te sentindo perto, ouço sua voz, sinto seu cheiro, você esta comigo...
Ele se levantou e olhou o lado escuro da floresta.
- A cada minuto, eu vou me transformando em uma lembrança distante, uma lembrança que você só tem quando vê uma foto minha... Eu preciso de você pra existir moço, sem você eu estou sumindo, desaparecendo, me transformando em nada...
- Eu não vou deixar você, nunca, você vai esta comigo, em qualquer lugar, á qualquer momento. Aqui, ou lá em casa. Sempre... – de repente ele não conseguiu conter suas lágrimas, havia uma dor profunda em sua voz.
- Eu estou morto, não percebe? Meu “para sempre estarei do seu lado” foi quebrado, minhas promessas se foram, junto comigo. Eu já não faço mais parte do seu mundo, e estar em um lugar que você não esta me faz senti que falta uma parte, uma coisa que completa.
Sua voz cortou o silêncio da floresta em gritos, mas quem quer que estivesse lá não ouviria nada. Veria apenas o outro menino, que permanecia imóvel sobre o tronco de pinheiro caído. Por que na verdade, era apenas ele que tornava o lugar habitado. Mas este menino sentado, falou em voz alta:
- Você esta errado, você não esta morto, não para mim. Por que não acredita, eu posso te ver agora. Segure minha mão, volte pra casa. – ele tocou sua mão fria.
- Você só pode me ver aqui, por que é nesta parte do mundo que estão concentradas a maior parte das lembranças que você tem sobre mim. Em outro lugar será como se eu nunca tivesse existido.
Ele se virou e olhou pro outro com aquele velho olhar. E então, o que permanecia vivo entendeu que o amor, realmente nunca morre, permanece vivo, para muito além da vida...
- Não importa o lugar onde você esteja. Eu vou esta aqui quando voltar, sempre vou estar aqui. Esperando que a melhor parte de mim, que ainda faz parte desse mundo, venha me ver... Quando sentir falta mim...
E por fim, com um passo atrás do outro, ele o deixou na calada da noite pra ir dormir em casa, pra quem sabe, no próximo dia, ver ele de novo...

4 Comentários

  1. Que texto lindo. Tocante, emocionante e apaixonado!
    Parabéns!!
    Tem postagem nova, passa lá!
    beijos

    evesimplesassim.blogspot.com

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  2. Isso me lembrou muito "A Morte e Vida de Charlie". Uma cena muito bonita.

    Mas por mais estranho que possa parecer eu sou a favor das pessoas se esquecerem das outras -principalmente se estiverem mortas.

    É preciso deixar ir quem se deve. Quem tem que ficar fica, sem que a memória precise fazer esforço para lembrar. De alguma maneira ela sempre esta lá.

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  3. Como sempre,texto lindo Rick *-*
    "Eu vou esta aqui quando voltar, sempre vou estar aqui. Esperando que a melhor parte de mim, que ainda faz parte desse mundo, venha me ver... "
    ameei *-*

    Beijos beijos :**

    http://fugaadarealidade.blogspot.com/

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  4. sempre estar esperando voltar quando sentirem falta..
    gostei Rick, como sempre <3

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