Quando tinha 7 anos, Pedro ganhou sua primeira camisa de um time de futebol. Cresceu induzindo pelo seu pai a gostar do flamengo. E desde cedo jogava bola ali na esquina, participava do time da escola e amava a coleção de bolas que tinha dentro do armário. Cresceu, e hoje podia muito bem ir sozinho ao jogo nesta quarta-feira. Era seu maior sonho se juntar a mais de 50 mil pessoas numa torcida só e gritar desesperadamente que a mãe do juiz era puta se ele fizesse algo contra o seu time... Então ele saiu de casa, subiu no primeiro ônibus e foi. Quando viu aquela multidão toda amontoada no portão subindo um por cima do outro pra querer entrar, decidiu que era muito melhor ter ficado em casa e ter assistido pela TV. Mas era seu sonho, então, neste dia gritou tudo que podia. Tanto quanto os mais de 50 mil ao redor dele. E por fim, voltou pra casa, feliz até. Muito embora o time não tenha ganhado, muito embora tivesse se exposto a tanta insegurança, ele esteve ali, presente, torcendo... Chegou tarde da noite. Dormiu. E acordou de manhã com os gritos de pouco mais 50 pessoas que passavam na sua rua. Estavam protestando contra o corte de uma arvore que ficava naquela esquina onde ele costumava jogar bola com os amigos. Era tão antiga que já tinha servido de sombra para várias e várias gerações. Ela também foi à sombra para os dias quentes dele. Também fora. Portanto, fechou a janela e voltou a dormir, esse povo realmente não tinha o que fazer...
Já era tarde quando ele estava indo pra faculdade atrasado naquele dia. Passou correndo pela esquina quando, de repente, percebeu que a arvore já não estava mais lá. Mas como assim? Cadê a arvore que o protegeu do sol durante sua vida toda? Onde? Quando? Como... De repente sentiu-se totalmente culpado, envergonhado até. Se pudesse voltar no tempo, pularia da janela e se juntaria aquelas poucos 50 pessoas e gritaria tão alto quanto gritou no estádio, gritaria pra não cortarem a arvore, daria um depoimento, subiria nela, imploraria. Faria qualquer coisa só pra manterem ela lá. Mas não o fez. Na verdade ignorou o que se passava naquela manhã, fechou a janela e voltou a dormir e, pouco se lembrava, mas achava que disse a si mesmo que aquelas pessoas não tinham o que fazer... O engraçado é que Pedro é só mais um entre bilhões no mundo. Tinha seu teto e nele vivia seu total individualismo. E se não era com ele, pouco se importava. Mais Pedro se sentia sujo hoje, hipócrita até. Que fazia ele para mudar o mundo? Salvaria uma arvore? Não. Ainda nem tocamos em assuntos relacionadas ao Meio Ambiente por que ainda é uma questão relativamente recente... Mais era ridículo ver que mais de 50 mil pessoas gritavam por um simples time futebol e em uma manifestação contra corrupção não aparecesse 50 pessoas. Era ridículo pensar que milhões de jovens protestassem pela liberação da maconha e quase ninguém levantasse uma mão pela preservação das nossas florestas. Quase ninguém vai mais a luta pela democracia, pela liberdade, pela paz. Conta-se nos dedos quem realmente se dedica a isso e esse poucos geralmente são “tirados do caminho” pelo sistema... E assim a vida segue com todo mundo reclamando calado, nos seus cantos, confortáveis, sem nada fazerem. O conformismo esta aqui, ali, ai... E no fim, já nem sabemos pra onde estamos indo...
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50 mil é muito comparado a 50, mas tenho a certeza que a motivação da minoria, quando certa, tem uma consequência mais positiva. Os 50 mil assistiram o jogo e fim. Mas naquele bairro as 50 pessoas serão sempre lembradas pela luta a favor da árvore. A diferença aqui também é grande.
ResponderExcluirVocê me deixou reflexivo com esse texto. Imagino a inspiração que tu teve pra escrever ele, olha só. Se cuida e não fique mais muito tempo sem escrever...
Hey seu moço,
ResponderExcluirte indiquei pra um meme la no blog, passa conferir.
abraços
Nossa, gostei muito do texto. Bela forma como escreve. Até mais.
ResponderExcluirhttp://desventuras-em.blogspot.com.br/
Você escreve!
ResponderExcluir;o)
É uma daquelas situações que somente me fazem pensar, "Sad, but true". As pessoas só levantam suas vozes para defender algo alimentado pela paixão ao longo de suas vidas. Infelizmente, os pais ensinam aos filhos a amar seu time de futebol antes de amar aos recursos naturais que os mantém vivos. Por quê? Porque um tem influência direta, e o outro não. E as pessoas são tão superficiais, que só valorizam o que chega à altura do próprio nariz.
ResponderExcluirGostei do seu blog, moço. :)
ola ricardo. boa tarde tudo bem? então em resposta ao que você disse, eu adoraria mesmo se você fizesse um template pra mim, muito obrigada. mas se você mesmo que fez então porque não disponibiza um site com alguns modelos.. você até fez um pra 'Lari Moreira' também né (uma pessoa muito legal ela rsrs) mas eu gostaria de um que fosse a cara do meu blog. Um Abraço!!
ResponderExcluirhttp://quem-dera-ser-poeta.blogspot.com
Rick,de fato se observarmos não fazemos muito para mudar o mundo!Gostei da história porque esse menino é um pouco do nosso jeito e se preocupa com o mundo,mas ainda não sabe bem como ajudar!Bjs e feliz Natal a vc e sua familia!
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