Breve observação da saudade

Cheiro de sabonete da Granado. Cabelos finos e lisos. Ainda sinto o toque, fecho os olhos, respiro. Sua voz baixa e rouca ainda chamando o meu nome. Ou errando o meu nome. Me relembra que não mais.



Eu sonho contigo, mas você não.

A playlist do vizinho me lembra que hoje é quarta. Amanhã, como todos os outros dias, você não vem. O conhecido que revejo na rua te manda abraços, mas amanhã você não vem mais.

Toda vez que eu perco a distração. Toda vez que eu me sinto sozinho. Toda vez que eu me pego chorando. A brisa entra pela janela do ônibus – bagunça meu cabelo – e eu aceito isso como carinho teu. E agradeço ao universo por este breve ponto da eternidade que você esteve presente em minha vida.

Julieta, se eu repito teu nome é porque eu sei que tu jamais vais me deixar. Eu sei que olhas por mim. Que sempre será recíproco. Que apesar de todas as circunstâncias, ainda és o meu bem. O meu amor estrela guia. A minha pessoa preferida nesta vida.

A minha saudade mais bonita.

Rotinas

A verdade é que a rotina nem sempre nos deixa sem tempo, nós é que usamos o nosso tempo livre pra prolongar a rotina. O ano bem começou e é isso, tudo continua normal porque datas não mudam nada. Enfim, usei o tempo livre pra desenhar um pouco. Escrevi, porque escrever me tira desse afogamento diário em coisas pra fazer e que eu vivo deixando pra depois de amanhã...



A vida passa, o ano acaba, o mundo gira. Arrume suas malas e tenha mais força de vontade, planeje novos sonhos, novos ares, (a)mares... O tempo não espera, o universo só observa e somente você escolhe o que vai fazer a partir daqui. Mesmo que você não tenha dinheiro, não tenha roteiro, não tenha um amor, você tem o ar que respira, você tem um coração que bate, você tem a si mesmo, e se você tem tudo isso, tenha gratidão pelo pequeno espaço da eternidade que foi reservado para você seguir em frente. Ame-se, seja seu melhor amigo, tenha fé...



Paz e amor, é tudo que eu quero pra nós, pro mundo. E se não pudermos ter o que amamos, que pelo menos saibamos como amar o que temos. E se a paz não se fizer presente, arrume as coisas dentro de você, porque nenhum lugar do mundo vai te trazer paz se você não estiver de bem consigo mesmo.



Essencial é ser você. É ser aquilo que você diz, pensa e faz. É esta de bem consigo mesmo e não se importar com os outros pensam a seu respeito. Essencial é ter na vida pessoas que te amam pelo que você é por dentro e depois por fora, pelo que você faz e pelo coração que bate ai dentro. Sobre todas as coisas, o essencial mesmo é ser feliz...

Entre nós

Talvez o infinito não seja mesmo para todo mundo, porque no fundo, boa parte das pessoas que estão aqui não serão felizes. Neste perde e ganha, a gente nasce, sobrevive e o resto é esquecimento. Então, de nada adianta esse seu interesse continuo de ser alguém que permanecerá pra sempre na memória das pessoas, porque até a humanidade um dia também será esquecimento.

Se tudo segue, envelhece, fica tarde e anoitece, haverá um dia em que não haverá mais amanhã, então, seja feliz moço. O tempo é este, o pouco tempo é agora.
Felicidade é questão de ser, de está bem consigo mesmo, de leveza, de paz. Você sabe bem que tudo isso existe dentro de você, basta escolher o que é melhor pra ti. Felicidade vem de dentro pra fora, então te aceita assim cara, com esse cabelo desgrenhado, com essa barba mal feita, com esse jeito largado e com a vida toda pra dá jeito, aceita que dói menos, aceita que é mais fácil resolver que ficar maquiando os fatos. Antes de tudo, ame-se. O essencial é está feliz consigo mesmo, como já foi dito. Aceite o fim e o recomeço. Aceite que seu erro sempre foi depositar felicidade em tudo que se perde com o tempo e cometa mais isso. Apesar dos pesares, essa vida é inconstante demais e tudo é passageiro. No fim, a vida segue. E se tudo é fase, não é preciso muita coisa, basta olhar o mundo com positividade...

Me leve pra longe

As placas de saída avisam que a vida esta ficando distante agora. Mas são só detalhes, já que eu queria mesmo era fugir de mim mesmo. Eu não sei em que esquina me perdi e muito menos aonde eu vou chegar dessa maneira. No fim das contas eu só vou indo, velejando neste mar de decepções sabe lá pra onde ou até mesmo se saberei chegar.


O fato é que a bastante tempo eu quero fugir, fugir de tudo aquilo que ainda me prende neste lugar...

Pessimismos

Eu não sei você, mas eu acho que está ficando cada vez mais difícil ser feliz nesse mundo. Hoje mesmo eu estava olhando pela janela do ônibus enquanto voltava para casa e sei lá, de repente me veio uma tristeza, nostalgia, solidão. Na minha vida está tudo relativamente bem, mas não dá pra ser feliz por aqui ao mesmo tempo em que você se torna ciente do mundo em que vive. Há mais motivos pra se esta frustrado. É difícil dizer sim pra tua felicidade e dizer não aos problemas do mundo porque eles não são seus. Ser consciente de um mundo em que nem todos vieram pra ser feliz, é trágico. Eu tenho que parar de ver jornais e diminuir a dose de pessimismo. Porque as noticias só aumentam minha ideia de como o mundo inteiro está se tornando um caos. Eu chego em casa. Fecho os olhos. Durmo pouco. Sonho ainda menos. Antes um sono tranquilo do que a consciência de que tudo isso aqui pode acabar de uma hora para outra, com larvas devorando o seu corpo por um motivo fútil qualquer. Você levanta cedo, encara a rotina, e talvez não volte mas pra casa. Todo dia eu me deparo com a cara de cidadãos exausto de tanto trabalhar e ganhar pouco. Gente querendo desistir. Lutando pra ser melhor para poder ganhar mais dinheiro e por ai vai. E em pensar que toda essa sua ganancia pode acabar em uma esquina qualquer e você talvez nem saiba em qual lugar no universo sua alma foi parar. Neste mundo é tudo ação e reação, causa e consequência, o fato triste é que no meio de tudo isso algumas pessoas são só vitimas. Vitimas que podem variar entre você, alguns conhecidos, ou até mesmo uma floresta, animais. Vidas... E eu não sei a sua, mas olha como é a vida, enquanto uns sorriem, outros choram, outros morrem, outros nascem, outros só são os outros. No fim das contas, somos todos vitimas desse mundo em que o caos se tornou tão grande que ninguém já é mais culpado por nada. Somos todos vitimas do acaso e ponto... Tudo esta sucumbindo, decaindo, virando caos. E eu lamento por ser mais um em bilhões. Mas é uma verdade e nós não podemos mas voltar atrás. As crianças vão crescer e criar seus próprios filhos aqui. É neste caos que o mundo vai findando. E as coisas boas e saudáveis vão perdendo a graça e dando lugar a tudo que só acelera sua extinção. Hoje eu vivo e mantenho a esperança de que isso aqui seja só um lugar em que realmente estejamos de passagem e que a vida, de verdade, venha depois. Depois de resistirmos ao máximo todo o sofrimento do mundo e enfim, ir dormir, para acordar vivo em uma outra vida, e que seja leve...

Finais

(...) E a vida é apenas isso John. Uma consciência temporária que como tudo, deixará de existir um dia. Não a nada a reclamar ou argumentar a respeito cara, porque esse é o destino de tudo que vive... Basta ver ao seu redor, a todo instante consciência se formam e depois acabam, o tempo que tu esteve, o que tu fez, o que iria fazer, é tudo esquecido quando a consciência de quem lembrou acabar... Somos só infinitos que se desfazem moço, para sempre que duram cinco minutos, vidas que acabam com você afundando num sono vazio, inerte e sem sonhos. Somos só isso, depois disso, fim...


Mas uma coisa tem grande probabilidade de permanecer, se você tem sorte saiba que alguns infinitos particulares ficam guardados, o universo não pode simplesmente ignorar e deixar de assistir quando o amor entra em cena. Anos, meses, dias, horas, não importa a quantidade de tempo em que durou, se aconteceu, bem, amores se tornam infinitos em algum ponto insignificante da eternidade..

Precipícios

Uma vez que estamos em queda contínua não tem voltas. É um desastre. Porque estamos constantemente caindo, sem medos... O amor é um precipício moça. Nos jogamos sobre ele sem se importar com o que nos espera lá embaixo. E de repente, tudo perde o sentido. Vida, terra, céu, nada abala o fato de estar morrendo por amor. Ou vivendo dele. E eu, com certo frio na barriga, pulei. Me joguei do precipício abaixo e morri por amor umas mil vezes. Cair consciente do fato de que não teria voltas. Morri por amor e continuei vivo...


Teus olhos são precipícios onde a queda é continua. Então me deixa cair, sem medos, antes que a vida me induza ao precipício, sem ter a intenção de me fazer viver um amor assim...

(A)gostos

A gente é quem escolhe se quer o café mais doce ou mais amargo. Vai de cada pessoa, depende do dia, do estado de espírito, ou se por algum motivo maior você vai ter que ficar acordado até mais tarde, dai é aconselhável um café bem quente e mais amargo. Você, mais ninguém além de você mesmo, escolhe o que é melhor pra ti. Você controla a quantidade de açúcar e adoça ao seu gosto. Por que se você não o fizer, a coisa toda amarga, e se a gente não aproveitar o momento, tudo esfria. Tudo depende do seu ponto de vista, há quem ache o muito doce enjoativo e o amar(go) poesia. A verdade é que você cria sua própria receita de felicidade, por que ela não vem pronta e muito menos é vendida pré cozida. Você vai precisar descobrir o passo a passo sozinho, os ingredientes serão ao seu gosto, e a sua receita será somente sua. E então, quando você chegar – depois de muitos erros – ao ponto certo, descobrirá que segredo da receita sempre foi você mesmo. Basta ser sincero contigo. A vida costuma retribuir sorrisos...

Um lugar ao sol

Tenho vontade de abrir as janelas. Colocar toda a sujeira de casa pra fora. E deixar com que os ventos soprem neste quarto e leve embora essa poeira solitária de um peito vazio. Hoje eu tenho vontade de sol, de ar, de vida. E trocaria todo o conforto dessa sombra por um simples lugar ao sol, onde se sinta a vida a flor da pele. Abro mão dessa calmaria por um pouco de bagunça, um pouco de piada, um pouco de “vamos viver a vida”. Estou saindo desse abandono de mim comigo mesmo, e partindo pra o que eu to chamando de “seguindo”.


Amanhã eu tenho mais uma chance por que o sol vai voltar. O dia estará quente, e este verão vai me obrigar a sair pra comprar um sorvete. E quanto tempo já faz, que eu evito a felicidade, de passar nesta velha e boa sorveteria do seu Ronaldo.
— Tinha esquecido que a felicidade está em coisas simples.

- Velejaremos

O engraçado é que apesar de tudo, o nosso barco vai... Mesmo furado, partido, aos pedaços ele vai indo, com a maré... O importante é nunca parar de remar. Sempre checar as bússolas e ir em frente, velejando, rumo aos nossos sonhos, ainda que em determinados pontos a corrente nos empurre pra trás, ainda que este infinito azul pareça inalcançável, chegar do outro lado só dependerá da gente... E não importa se estivermos sozinhos. Se o barco afundar a gente nada. Ainda que nosso destino seja morrer nadando. Pelo menos a gente tentou chegar.

Vilanias

Quando tinha 7 anos, Pedro ganhou sua primeira camisa de um time de futebol. Cresceu induzindo pelo seu pai a gostar do flamengo. E desde cedo jogava bola ali na esquina, participava do time da escola e amava a coleção de bolas que tinha dentro do armário. Cresceu, e hoje podia muito bem ir sozinho ao jogo nesta quarta-feira. Era seu maior sonho se juntar a mais de 50 mil pessoas numa torcida só e gritar desesperadamente que a mãe do juiz era puta se ele fizesse algo contra o seu time... Então ele saiu de casa, subiu no primeiro ônibus e foi. Quando viu aquela multidão toda amontoada no portão subindo um por cima do outro pra querer entrar, decidiu que era muito melhor ter ficado em casa e ter assistido pela TV. Mas era seu sonho, então, neste dia gritou tudo que podia. Tanto quanto os mais de 50 mil ao redor dele. E por fim, voltou pra casa, feliz até. Muito embora o time não tenha ganhado, muito embora tivesse se exposto a tanta insegurança, ele esteve ali, presente, torcendo... Chegou tarde da noite. Dormiu. E acordou de manhã com os gritos de pouco mais 50 pessoas que passavam na sua rua. Estavam protestando contra o corte de uma arvore que ficava naquela esquina onde ele costumava jogar bola com os amigos. Era tão antiga que já tinha servido de sombra para várias e várias gerações. Ela também foi à sombra para os dias quentes dele. Também fora. Portanto, fechou a janela e voltou a dormir, esse povo realmente não tinha o que fazer...


Já era tarde quando ele estava indo pra faculdade atrasado naquele dia. Passou correndo pela esquina quando, de repente, percebeu que a arvore já não estava mais lá. Mas como assim? Cadê a arvore que o protegeu do sol durante sua vida toda? Onde? Quando? Como... De repente sentiu-se totalmente culpado, envergonhado até. Se pudesse voltar no tempo, pularia da janela e se juntaria aquelas poucos 50 pessoas e gritaria tão alto quanto gritou no estádio, gritaria pra não cortarem a arvore, daria um depoimento, subiria nela, imploraria. Faria qualquer coisa só pra manterem ela lá. Mas não o fez. Na verdade ignorou o que se passava naquela manhã, fechou a janela e voltou a dormir e, pouco se lembrava, mas achava que disse a si mesmo que aquelas pessoas não tinham o que fazer... O engraçado é que Pedro é só mais um entre bilhões no mundo. Tinha seu teto e nele vivia seu total individualismo. E se não era com ele, pouco se importava. Mais Pedro se sentia sujo hoje, hipócrita até. Que fazia ele para mudar o mundo? Salvaria uma arvore? Não. Ainda nem tocamos em assuntos relacionadas ao Meio Ambiente por que ainda é uma questão relativamente recente... Mais era ridículo ver que mais de 50 mil pessoas gritavam por um simples time futebol e em uma manifestação contra corrupção não aparecesse 50 pessoas. Era ridículo pensar que milhões de jovens protestassem pela liberação da maconha e quase ninguém levantasse uma mão pela preservação das nossas florestas. Quase ninguém vai mais a luta pela democracia, pela liberdade, pela paz. Conta-se nos dedos quem realmente se dedica a isso e esse poucos geralmente são “tirados do caminho” pelo sistema... E assim a vida segue com todo mundo reclamando calado, nos seus cantos, confortáveis, sem nada fazerem. O conformismo esta aqui, ali, ai... E no fim, já nem sabemos pra onde estamos indo...

Contra tempo

A verdade é que algumas pessoas só vieram aqui para sentir o amor. E não é uma tese. Nem todo mundo tem a sorte de viver um amor de verdade. Não me refiro, por exemplo, aquele tipo de amor dos livros, ou dos cinemas, ou como qualquer um que você já tenha lido ou ouvido falar algum dia. Mas me refiro, primeiramente, aquele tipo de amor tranquilo e seguro, único, sem inspiração noutro romance ou baseado em lendas antigas que já foi trilha sonora pra te fazer dormir. Perco meu tempo falando do amor real, incondicional, das duas partes, sem contos de fadas ou príncipes encantados que, num piscar de olhos, resolvem seus problemas e constroem seus finais felizes. Nem é preciso ter finais felizes. Falo só de poder viver aquilo – com todo direito – mesmo que em uma hora acabe, como tudo na vida. Mas que pelo menos tenha realmente existido um dia. Pra que fique guardado, só fique guardado com a gente... Ai eu pergunto, é sorte minha gente? Merecimento? Acaso? Destino? Propósito? Quem sabe a resposta, por favor, saiba como provar seus argumentos. O fato triste é que não parece nada justo. Você vem aqui, passar todo esse tempo vivendo e não tem a oportunidade de viver esse sentimento bonito. Não tem a oportunidade de provar e sentir o gosto do que é ter alguém em quem confiar e se entregar de corpo e alma. E não é só pessimismo, basta prestar atenção ao seu redor. Às vezes, ainda que você espere o bastante, ou melhor, que procure, o amor não vem, não chega, não bate na porta. Ai tu desiste e leva a vida na tranquilidade. E quando tudo esta bem, tu te apaixona por alguém que não retribuir todo amor direcionado.

— Talvez isso tudo seja só uma questão de tempo. De pressa. Ou talvez não seja nada. As coisas só não são como a gente quer.
Mas acontece que sempre chega o tempo em que o tempo acaba. Se vai, tijolo por tijolo, todo o castelo que nunca fica terminado de verdade. E ai, no fim, a maioria das pessoas só sentiram, não chegaram a viver um amor, desses que permanecem, amor estrela única na vida de alguém. A maioria das pessoas só existiram, fizeram famílias, levaram suas vidas simples e normais. Fizeram isso porque não dá pra ficar a vida inteira esperando que a felicidade toque na porta e peça pra entrar. Fizeram isso porque é preciso seguir, ir em frente, e nesse meio tempo, quem liga pro amor? Porque o conformismo toma conta e se o amor não é tudo, se pode viver sem ele. Ser coadjuvante, é melhor que não ser nada.

Subúrbios...

Pedro foi criado nos subúrbios do Rio. Cresceu abandonado pelo pai num lugar onde tinha como vizinhos as drogas e a violência. Durante muito tempo viu sua mãe chorando no canto, resultado do abandono e do desprezo. E assim ele cresceu, sendo a prova viva de que este mundo, às vezes, pode ser bastante injusto. Os vários e vários caminhos fáceis da vida emergiam em meio a seu caminho difícil. O certo, por varias vezes, lhe parecia mais dolorido, mas pensava que seria muito melhor, no futuro, quando essa tempestade, por fim, passasse. Pedro era um menino simples, brincalhão, e filho único, era a coisa mais importante na vida de sua mãe, o resultado perfeito de um casamento falido e infeliz. Cresceu e brincou a infância toda com seus colegas de escola, e por varias vezes viu esses mesmos colegas escolherem o caminho mais fácil e acabarem suas próprias vidas como alguém que consciente, decide morrer. Passou no vestibular na terceira tentativa, porque o que aprendeu nas escolas do seu bairro não lhe ajudou muito. E agora, mais do que nunca, dona Ana estava feliz. Porque? Pela primeira vez na sua família, alguém tinha decidido ir mais longe. Pedro sonhava alto, queria pelo menos tentar mudar aquele lugar onde lei nenhuma existia e os pobres eram esquecidos pelo governo, como ratos que merecem somente as sobras. E olha que Pedro nasceu e se criou no berço da marginalidade, assim conhecida pela elite que ocupa a outra parte desta cidade dividia em duas, onde os hipócritas ergueram seus arranhas céus e se separarem dentro dos seus próprios mundos, onde o consumismo sempre leva à maioria a falência. A verdade é que Pedro sonhava alto por demais e não ligava em manter os pés no chão, ele queria mesmo era fazer pelo menos isso, sonhar, sonhar e sonhar, na esperança de um dia realizar pelo menos um bocado desses sonhos. E mostrar pra ele mesmo que se a vida te oferece limões, é seu dever correr atrás do açúcar e fazer sua própria limonada. Que quando já se nasce numa vida assim, é preciso ir além, e de certa forma provar pra si mesmo que no futuro, todo esforço é recompensado... Hoje, era uma sexta feira qualquer do mês de agosto e Pedro tinha negado o convite dos amigos para sair depois da faculdade pra comemorar a entrada de mais um novo período. Voltava pra casa à noite, escutando musica no fone de ouvido, calado e calmo. Desceu do ônibus e seguiu, faltavam mais duas quadras pra chegar à entrada do morro, então, precisava andar mais rápido agora, não sabia o que poderia surgir daquelas esquinas escuras por onde passava. E Pedro não sabia mesmo... Numa questão de segundos, Pedro levou uma pancada na cabeça pelas costas. Sentiu o sangue escorrer e precisou de três segundos pra virar e ver quem era. Dois policias lhe apontavam suas armas. Mandaram-no passar a grana, alegando pagamento de propina que iria quitar uma divida que já estava vencida. Ele negou uma, duas, três vezes até levar um soco e cair no chão. Disse umas mil vezes que estavam confundindo ele. E depois de ver todos os seus livros espalhados no chão, ouviu algumas balas serem disparadas e em milésimos de segundos, atingirem seu corpo... Agora estava sangrando e gritando desesperadamente pro vazio, e sem ninguém por perto, ele se perdeu profundamente na inconsciência... E quem diria, Pedro pensava que tinha mais chance de morrer onde morava. E agora, onde foram parar os seus sonhos? Quem iria segurar as esperanças da sua mãe, quando ela soubesse que o muro em que se segurava, estava desmoronado? Quando se morre jovem, parece que as coisas ficaram pela metade, separadas entre o “lá” e cá... Acontece que, mais uma vida tinha sido interrompida, em milhões. O sistema, a hipocrisia cuspida, a falta de lei, a falta de tudo, tinha mais uma vez acabado com o tudo de um rapaz que mal ficaria um dia estampado nas capas de alguns jornais locais. Depois disso, como todos os outros, seria esquecido, dentro de mais um inquérito policial.

É perceptível, a violência no Brasil cresce a cada dia...

- Esqueci de crescer

São 18 outonos de pura experiência. Com uma pilha de lembranças amontoadas no canto e uma estante de saudades guardadas. Tenho que guardar esses cascalhos comigo, porque me esqueço deles assim que vivo o momento ou com o passar do tempo. É que eu gosto de guardar as coisas, tudo dentro do peito, entre as folhas de um livro qualquer, de um diário antigo, de uma mensagem, nos post de um blog, sei lá. Elas só precisam estar acessíveis pra quando a solidão apertar, eu ter a certeza de que também já vivi coisas inesquecíveis. Hoje estou fazendo aniversário e lembrando dos meus aniversários anteriores, e o engraçado é que pesando bem, eu comemoro todo ano, um ano a menos de vida e uma bagagem de saudades à mais. E bom, eu deveria escrever o quanto sou grato pela vida e pelas pessoas que fazem parte dela. Mas falar desses assuntos me remete diretamente a uma noite de insônia, ao segundo depois de pular da ponte, a sentimentos que eu guardei e ainda guardo, por isso, deixo pra depois. E enfim, o tempo está passando, até pra mim...

- A falta que faz

Anda faltando algo. Uma parte que falta. Uma dor com sentido. Uma coisa qualquer pra ocupar o espaço vazio em cima da mesa. Ou quem sabe mais uma flor nova, pra morrer lentamente no lugar da outra que agora repousa seca e sem vida dentro do jarro na janela. Anda faltando gosto. De sal, de açúcar. De chuva. De vida. De cores coloridas. Sem aquele fundo preto e branco ou aqueles tons de cinza. Anda faltando um som. Uma melodia pra letra da minha musica sem rima. Uma corda pro meu violão. Ou talvez um acorde pra vida. Anda faltando moldura pra este retrato vivo. Uma alma pra por debaixo desta casca sem vida, ou talvez um morador pra este buraco negro vazio que eu insiste em chama de peito. E anda faltando tanta coisa sem importância pra gente se tocar e reconhecer o momento em que esta sendo feliz... Tanta falta que faz depois, quando o tempo já passou e não reconhecemos o que foi bom. Não podemos fingir que essa falta não machuca, até porque é sem voltas. Mas é certo que nessa vida tudo tem concerto. E que o tempo, de algum modo, pode sim colocar as coisas no lugar. Basta parar de travar as rodas do trem chamado "as coisas mudam", e verás que levar uma vida sem destino pode ser surpreendentemente bonito. A estação que passou, passou, desembarque em um novo caminho...

Tic-tac

01:13h. O relógio da sala faz um tic-tac típico daquelas cenas de filme que indica que o tempo estar passando. Ele olha o teto, calado, escutando a sincronia exagerado dos ponteiros do outro lado da parede do seu quarto. Que parece bater meio igual seu peito, lento e entediado. Esperando quase que desesperadamente que o tempo passe, e que o dia amanheça, logo. Fecha os olhos, não te ver, abre os olhos. Pelas brechas da janela, a luz da lua de janeiro ilumina o céu quase sem estrelas. Fora isso, apenas o calor que esquenta o quarto. E o rádio do vizinho que chia uma música triste e romântica, bem cara dele. E sabe aquela pessoa que você sempre pensa antes de dormir? Bem, foi seu numero que ele discou na tela do celular. Chamou uma, duas, três vezes, mas hoje você não o atendeu. Por que? Ele olhou seu nome no celular e ficou pensado o que escrever no espaço em branco da mensagem, e é tanta coisa que ele escreve só pra dizer que te ama. Tantas são as suas palavras. E inúmeras são suas formas de dizer sempre a mesma coisa.

Até que pare de bater

Tem sentimento que nunca acaba e tem gente que dentro do peito nunca morre.
Pelo menos essa é a minha teoria, porque comigo funciona assim. E pelo visto, por aqui, ninguém concorda comigo. Porque eu sinto como se nos últimos meses todos estivessem me deixando pra traz. Me esquecendo do lado de fora da porta, como se eu fosse uma planta seca sem vida que passou a atrapalhar a decoração dentro de casa. Como se os sentimentos por mim não fizesse o menor sentido ou acabasse assim que eu decepcionasse alguém. Qual é o ser humano que não vai decepcionar o outro em algum ponto da vida? Hoje é como se nada, nem mesmo um tempo longe, me tirasse do esquecimento dessas pessoas que eu não sei porque decidir lembrar. Ninguém senti saudades. E eu, que sempre fui convicto disso e muito embora desejasse o contrario, acabei por me tornar, por baixo dessa casca razoavelmente bonita, a planta já sem vida que cordialmente aceitou ficar do lado dos ignorados. Sempre soube que, por mais que regasse aquele jardim, sempre estaria faltando algo dentro do coração dessa gente. Eu jamais iria colher a bondade que havia plantando. Sempre faltou uma parte. Um sentimento, em tantos, que eles provavelmente não vão ter a chance de conhecer. A reciprocidade tem viajado pra longe.

Romances e Chuvas

Segunda-feira sempre amanhece mais frio por aqui. E eu uso algumas camisas e um velho cachecol xadrez que rapidinho me aquece. Enquanto isso, aqui perto, do meu lado, os casais de namorados se abraçam, aquecendo uns aos outros. Como se fosse ele, o sol substituto dela. Por muito tempo isso sempre foi algo normal, até eu ter conhecimento do é sentir saudades de você.


E hoje, bem cedo antes de entrar no ônibus de volta pra casa, eu sentir minha respiração falhar no nó que se formava na minha garganta. Nunca tinha prestado atenção, mas tudo que é romântico me tem feito pensar em você. E sabe o que incomoda? Esses casais que trocam carinhos, que se beijam, trocam olhares e sussurram palavras bobas perto de mim. Por que, sem querer, eu imagino como seria se a vida tivesse sido boa comigo. Como seria te abraçar, andar de mãos dadas, te sentir perto, escrever uma carta, te fazer sorrir. E quando tudo isso passa, o que resta é a realidade estampada e o coração partido. Talvez o universo tenha se enganado. Talvez não fosse pra ser agora.

Janela dos fundos...

Os bons ventos tem soprado bastante na minha janela. Hoje mesmo eu escancarei todas elas e deixei que levassem embora toda poeira deste quarto bagunçado, cheirando a morfo e vazio. Eu abrir, eles sopraram e por fim saíram pelas portas do fundo. Fui perceber só mais tarde que eles levaram muito mais que só a bagunça, porque não sobrou nada dos sentimentos que eu tinha guardado dentro das gavetas da penteadeira. Ai se eu soubesse, teria jogado este coração partido dentro deste vendaval. Só assim me livraria. Tomara que não volte. Eu até posso fingir que corações partidos são só um detalhe, e que no final de Dezembro tudo estará completamente acabado. Em seu devido lugar.

Não, ele não é o que parece...


Talvez tudo que você faça possa ser apenas mais um ato em tantos outros. Tudo que insiste em acreditar possa ser apenas mais uma ilusão em tantas. Feliz daqueles que acreditam no que acreditam, daqueles que se desapegam dos costumes e deveres que a sociedade julga ser certo. Todo mundo tem capacidade de ver as coisas com seus próprios olhos, ou seja, de julgar tudo que é bom pra si. Pra que se acomodar com algo que não o faz feliz? Por que fazer algo só por que todo mundo faz? Sim, feliz daqueles que vivem da sua maneira, que faz as coisas sem se importar com o que vão dizer. Feliz é aquele que é verdadeiro consigo mesmo.

Uns sentem a chuva, outros apenas se molham. — Roger Miller.