Contramão

às vezes nós sabemos do estrago eminente

é como dirigir em alta velocidade mesmo vendo inúmeras placas informando sobre os perigos

reduza a velocidade, eles dizem



se você sofre um acidente grave e não morre, tudo bem conviver com as sequelas depois

a morte até poderia ser mais fácil, tranquila

melhor do que perder o direito de reclamar da sorte e aceitar que a culpa foi sua

existem pessoas iguais uma curva perigosa no meio da estrada, você ignora todos os sinais e aceita o perigo

tudo bem, eu estou ciente que você vai desgraçar comigo e desejo continuar

eu sei que a pressa é inimiga do coração
entendo que posso acabar tendo um traumatismo

Deixar-se ir

abraços apertados. olhares profundos. um pouco de carinho... esquecemos todas as mágoas e confessamos que poderia sim, durar um pouquinho a mais. só um pouco, ou um espaço de tempo suficiente pra se casar e construir uma família linda.

existem tantas possibilidades que dentre todas essas probabilidades de reatar, percebemos que foi maravilhoso, foi... mas foi.

e é hora de deixar ir.



os olhos marejam, dá um nó na garganta, respiramos fundo. eu lembro do seu "não desiste de mim" e percebo como nossa sorte é injusta.

amor da minha vida, estamos destinados a acabar. eu queria que fosse apenas mais uma das centenas de virgulas que já colocamos. eu queria.

mas às vezes pontos são necessários.
às vezes é melhor chegar ao fim.

se tudo já foi dito. se tudo já foi conversado. se tudo já foi repensado. é hora de seguir em frente e se permitir partir.

é hora de agradecer ao universo por tudo que foi vivido e sonhado. é hora de guardar esse amor no fundo do peito e não mais folhear esse diário.

se eu vou superar daqui a dez dias ou dez anos, só o tempo vai dizer.

mas é melhor está em paz. sem brigas. sem ofensas. sem ressentimentos.
a vida segue.

é hora de reconhecer fins.

Feito para esquecer




cabelo cortado na zero. olhos cansados. barba por fazer. camisa do capitão américa. bermuda listrada. chinelos. devo admitir que eu te achei um charme. devo admitir também que olhei para trás quando tu passaste por mim a primeira vez, porém, jamais imaginei que logo depois você viria falar qualquer coisa comigo. mais algumas conversas bobas nas redes sociais e você apareceu de surpresa no meu trabalho com um riso lindo e com algumas flores que tu pegaste de algum jardim por aí, mas que eu recebi e guardei com o maior carinho.

ninguém neste mundo jamais me deu flores.
meu coração bateu forte.

devo assumir que se tua intenção era fazer eu me apaixonar por ti, moço, tu foste muito bem-sucedido.

Eu Queria Estar Morto

Meus mecanismos de defesas apitam: não se apaixone não, não por ele, não dessa vez. Eu respiro fundo, assumo os riscos e me permito afundar cada vez mais no verde desbotado dos seus olhos. Eu prendo a respiração e meus pulmões queimam. Mas eu sorrio. As borboletas ressuscitaram dentro do meu estômago. Mas eu sorrio. Eu perco o ar. Mas eu sorrio. Eu conto os segundos para te ver chegar e quando eu te vejo sorrir, a queda é para o alto. De olhos fechados. Eu me permito flutuar...



Mas meu amor, porque não? Se você vai me decepcionar, é da vida. Se às vezes eu vou te odiar, é da vida. Se eu vou ser feliz, tudo bem. Pode ser que tudo isso também vire saudades, mas quem sou eu para ignorar esse alinhamento cósmico que raramente acontece. Já faz tempo que eu venho me renegando aos prazeres e desprazeres da existência. Talvez eu precise tomar um partido. Mudar de estrada. Rever meus conceitos e te permitir partir meu coração. Ou ser iluminado, que é melhor. Acho que devo mesmo me permitir. O fundo do poço já não me parece ser tão confortável. Numa probabilidade pequena, talvez isso tudo valha a pena ou pelo menos sirva para preencher o silêncio das mesas de bar da Rodovia. Já não tenho mais tempo para deixar as oportunidades escaparem por entre os meus medos. Já não falo por mim. É uma mistura de pensamentos loucos que rodeiam na minha mente e no auge da minha insegurança, ele segura na minha mão. Eu disfarço com um riso. Eu me sinto bem. Eu me sinto vivo. Quando ele me abraça. Quando ele olha pra mim. Quando ele discretamente tira o peso das quinquilharias que carrego comigo e me deixa mais leve. A existência me parece bem tranquila. Eu queria ser eterno. Mas se eu morresse amanhã, eu morreria sorrindo.

Então...

– Tu conhece Barreirinhas? – Ele me encarou.
– Mais ou menos. Por que?
– Porque ficar aqui assim contigo me lembra o dia em que eu fiquei na beirada de uma lagoa lá em Barreirinhas, comendo peixe frito com a família de Juliana, uma menina que eu conheci. O céu estava quase igual, mais bonito, é claro. Cheguei semana passada de lá e cara, incrível aquele lugar... – Ele disse.



– Já faz tempo que eu fui. Mas não conheci os lençóis. Só fui fazer uma pesquisa de campo quando eu fazia curso.
– Cara, olha que eu já fui em muitos lugares, mas eu nunca tinha visto uma coisa tão bonita.
– O céu deve ser mais bonito lá...
– Sério. Muito mais. É muito estranho ver várias lagoas enormes de água cristalina no meio de tanta areia. A casa da July fica em Santo Amaro, e ai ela me levou pra conhecer vários lugares no mesmo dia e no fim da tarde, a gente foi pra um lugar chamado Farol... – Ele sorriu. – Que é exatamente um Farol mesmo, mas não só. Ai nós subimos e de lá deu pra olhar a imensidão que era aquele lugar. Eu fiquei sem fôlego cara. É muito bonito ver que depois de tanta areia tinha um mar calmo e esquisito e deserto e que eu tinha enfrentado tudo aquilo até chegar ali. Eu estava tão cansado que sentei na beira daquela imensidão enquanto o sol, lentamente, ia embora ao oeste de mim. De repente, sem mais nem menos, me deu vontade de chorar sabe. – Ele me olhou cheio de brilho nos olhos e falou sorrindo. – E eu chorei muito. Porque eu nem sabia o que agradecer, se a sorte de estar vivo pra viver tudo aquilo ou o privilégio de ter feito esta viagem só pelo fato de chegar ali e sentir a calmaria que a natureza por si só emana. Eu me senti conectado com mundo. Eu me sentir pequeno, mas não esquecido ou insignificante. Eu me sentir vivo sabe. Eu não sou feliz. Mas naquele instante, nada mas importava. A empresa aqui, a minha mãe alcoólatra, a falta de grana, o desapontamento dos meus chefes pelo negócio todo não ter dado certo, meu irmão que tá em Belém. Enfim, eu fechei os olhos, escutei o mar e esqueci... – Enquanto ele falava, eu fiquei pensado no momento que ele descrevia. Ele lembrou de tudo com tanta emoção e sentimento que dava pra ver no seu rosto ainda queimado pelo sol. E eu não vou te mentir, agora que ele estava olhando para as luzes do outro lado da cidade, ele parecia muito mais bonito do que era. – Já sentiu isso?
– Acabei de sentir. – E sorrir pra ele e ele sorriu de volta. – Quando puder, quero ir comer peixe frito na casa dessa tal de Juliana.
– Ela é uma ótima pessoa.
– Tu também parece ser cara. Eu mal te conheço e tal. Mas eu sinto isso. E pode ser que eu esteja errado e que você só esteja afim de me surpreender, mas eu não ligo não.
Ele colocou a mão sobre a minha, que estava apoiada no banco e eu acabei olhando fundo nos olhos dele. E se é mesmo verdade que os olhos não mentem, eu pude ver naquele olhar exatamente o que ele queria. Ele lambeu os lábios ressecados e eu fugir.
– Já são duas. Preciso ir... – Tirei a mão de baixo e olhei o relógio na tela do celular.
Quando eu ia me levantando, ele se levantou atrás de mim e me puxou pelo braço. Eu meio que me encostei na parede perto da porta do bar e ele ficou me encarando como que esperando alguma reação minha. Próximo o suficiente. Mas eu só olhava para aquela boca vermelha e sentia o cheiro do perfume misturado com álcool e cigarros fumados há algum tempo. Eu o olhei nos olhos e no instante em que ele quis ir em frente, eu virei o rosto, ele sorriu e me abraçou forte. O cheiro dele ficou intenso. Eu fechei os olhos e sentir vontade de ficar assim até a noite acabar.
– Qual é mesmo o teu nome cara? – Sussurrei no ouvido dele.
– Cassiano.
– Cassiano, eu preciso ir. Acordo muito cedo amanhã.
– Dorme lá em casa. Eu te deixo no serviço amanhã.
– Eu não costumo dormir com gente que eu acabei de conhecer.
– Eu também não. Mas hoje eu quero.
– Eu também.
– Então vamos.
– Hoje não.
– Eu sei que você quer ir.
– Tu sabe que eu quero ir. Mas eu sou difícil.
– Eu te conquisto lá em casa.
– Eu não costumo dormir fora.
– Acostume-se.

- Viajantes

Eu estava voltando de viagem e olhava pela janela do ônibus o dia indo embora. O céu estava incrivelmente bonito e o novo álbum de city and colour tocava nas alturas no meu fone de ouvido e, por um breve instante eu fechei o olhos e eu não vou te mentir, eu sentir uma vontade enorme de agradecer por esta vivo. De mirar o universo e gritar aos quatro cantos, muito obrigado Cara. Muito obrigado a vida que, apesar de suja e trágica, nos permite em meio ao caos, momentos tão bons que só de lembrar já te faz sorrir de canto. Esse fim de semana, esse banho de chuva, a musica, o cochilo no embalo de uma rede, a família, os amigos, o amor, a paz, tudo isso ainda existe, só esta sendo corrompido pela rotina que sufoca, pela pressa que não permite, pelo medo de esquecer tudo aqui fora e passar algumas horas perto do que te faz feliz e te dá paz. Meu pessimismo deve está ferido, porque de lá pra cá, tem sido dias de muita risada, beijos roubados, filmes incríveis e leveza na alma. Hoje, com a mesma banda tocando no fone e as lembranças sendo projetadas neste teto branco, vejo que tudo se foi, passou, voltou ao normal. A vida continua e a rotina bate na porta… Mas aquele sol se pondo, como uma luz no fim do túnel, me faz acreditar que Deus, talvez, tenha um plano pra todos nós.

Me leve pra longe

As placas de saída avisam que a vida esta ficando distante agora. Mas são só detalhes, já que eu queria mesmo era fugir de mim mesmo. Eu não sei em que esquina me perdi e muito menos aonde eu vou chegar dessa maneira. No fim das contas eu só vou indo, velejando neste mar de decepções sabe lá pra onde ou até mesmo se saberei chegar.


O fato é que a bastante tempo eu quero fugir, fugir de tudo aquilo que ainda me prende neste lugar...

A ponte que nos separa

Eu não tenho coragem de atravessar essa ponte Ana. Muito embora você segure na minha mão e prometa que não vai soltar, eu sei que já não posso. Parece ser fácil pra você, mas estar desse lado nunca foi tão seguro pra mim. Dessa vez eu não estou disposto a arriscar. Até porque essas coisas nunca foram apresentadas pra mim da maneira mais fácil e em todas as vezes que eu tentei, me empurraram dessa tal ponte antes que eu alcançasse o outro lado. Não sei mais atravessar, a vida me fez assim e o medo me prende do lado de cá. As coisas nunca foram tão fáceis como para você Ana. Eu não tive pais felizes e muito menos cresci sendo amado. A solidão nunca foi uma opção. E eu só me tornei vazio durante esses anos.



Já até fechei as portas de casa. Me tranquei aqui dentro quando já não aguentava mais chover pelos olhos e joguei a chave fora. Então não se culpe, eu sou um resultado de quem muito já caiu e que hoje tem um enorme medo de passar por perto de abismos. Eu sou isso Ana, um resultado. Meu mau-humor, meu tédio, meu estranho jeito de achar que está tudo errado é só um resultado de uma combinação que nunca deu certo. Eu e essa tal vida. Por isso, por favor, não incomode a paz do meu peito vazio. Demorei anos pra superar o ultimo tropeço. Dessa vez eu já não posso mais tentar. Se eu cair, juro que não volto desse mar de decepções. Morro afogado, porque já não me restam forças pra nadar. Tenha calma. Desista de mim. Sossega essa pressa. Me dê um tempo pra acreditar. Pra confiar que talvez, dessa vez, poderia dá certo.

- Cascalhos

Fiquei olhando em silêncio pela janela. O infinito azul se prolongava pra muito longe. E distante, algo na paisagem me fez parar. De repente meu rosto tinha se fechado, como o céu que ameaça chuva pra mais tarde. Eram só idas e vindas mesmo. Eu sabia. Relação boba entre o mar e a praia. Quando trás algo, sempre leva outro embora. E por ai vai. Num ciclo que nunca para. Numa velocidade que ninguém alcança... Mas meu amor, permaneça. Diga que vai ficar. Diga que nem as ondas, nem os ventos te levaram embora de mim. Diga que nenhum dia eu irei acordar e ter a impressão de que isso foi como um sonho. Diga que vai ficar. Repita! Prometa! Nade contra correte. Mude os ciclos naturais da vida. Cascalhos vão e vem. Pessoas devem ficar. Mas parece que tem uma coisa, que sempre afasta o que agente gosta. Como se ser feliz por algum tempo custasse o preço da saudade. Da ausência. Da lembrança que sempre te remete ao mesmo lugar. (...) Chega um tempo que a gente cansa de colecionar despedidas. Cansa de só sentir saudades. Anda faltando lugar pra guardar tanta coisa dentro do armário... E o coração transbordou, pôs toda pilha de sentimentos guardados pro lado de fora da porta.

- Imaginário

Anna. Menina do vestido furado na manga. Vivia a sorri. Vivia a voar por ai, como alguém que nunca tirou os pés do chão. Sempre manteve os pés aqui, embora seu coração sempre estivesse lá, muito distante, escondido a sete chaves dentro do seu mundo mágico. Velho mundo mágico na verdade. Porque agora ela cresceu. Deixou a inocência quando decidiu abrir a porta de casa e mostrar seu sorriso bobo e amarelo para o primeiro e único rapaz que passou por aquela rua e roubou seu coração de si mesma. Anna. Porque decidiu crescer tão cedo? Porque – quando fechou as portas – esqueceu-se de guardar as chaves? Porque deixou com que seu mundo desabasse, tijolo por tijolo, sentimento por sentimento, aos poucos. Agora ficou presa do lado de fora, aprendendo com a vida que nem tudo dura pra sempre e que se o amor permanece, a dor de não tê-lo por perto também demora cessar... Pobre Anna. Chora no canto como se ainda fosse uma menininha esperando pelos pais. Fazendo birra pra que lhe dessem algo. Mas desculpe, eles não têm o poder de arrancar um sentimento que já ficou guardado. Essas coisas deveriam ficar dentro da caixa. Deveriam ser abandonadas, assim como as bonecas. A infância é um reino pra brincar. E às vezes, quando o brinquedo é amor, um canto qualquer também pode ser um lugar seguro e saudável quando o assunto é crescer. Agora percebes o que fez? Já pode não voar sem balões, Anna. Bloqueou todas as passagens para aquele velho mundo imaginário. Onde aquele aperto no peito indicava que ali também batia um par de asas. Hoje só lhe cabe permanecer por aqui. E se tiver sorte, vai lembrar. Porque agora você faz parte deste mundo, e aqui o chão é duro, caso você queria tentar voar como antes...

Nor(mal)mente


Dirigia - sem rumo algum - para qualquer lugar distante no mundo. Hoje eu só queria me afastar, alcançar o mais distante possível de mim mesmo. Da convivência. Do dia a dia. Queria que os bons ventos me levassem pra longe, sem deixar pistas nem dicas de onde eu tenha parado... Por um breve momento, já muito distante, senti uma lágrima sendo roubada pelos ventos que sopravam forte das janelas abertas. A solidão emanava de qualquer canto da paisagem seca lá fora. E mal sabia eu por que estava chorando. A única coisa de que tinha certeza era que aquele momento - de algum modo - me fazia bem. Porque chorava como alguém que expulsava de dentro pra fora o que já não era mais saudável. Como alguém pessimista o bastante pra entender que se um dia tudo realmente estaria acabado e já que se vai morrer no final, não me cabe ficar guardando mágoas pra chorar mais tarde. (...) Era como uma noite de insônia, em que mesmo cansado eu não conseguia dormir. Como o segundo depois de pular da ponte – onde não há volta. Era como se meu grito se transfigurasse no mais profundo silêncio e ninguém me visse cair de encontro à realidade. Parecia que subitamente, o chão - seguro abaixo de meus pés – estivesse desabando e eu me visse constantemente caindo, sem conseguir ver o que me esperava lá embaixo. E não é como naqueles sonhos em que quando você está a um segundo do chão você acorda. Não, dessa vez era diferente. Nem mesmo eu sabia o que o que se passava comigo. Talvez fosse apenas um problema de mim comigo mesmo. Talvez não fosse nada. Talvez tudo. Tudo que eu guardei aqui dentro e que agora precisava ser digerido...

- Permaneça

E se foi, pouco a pouco, como muitos que disseram que iam ficar. Como muito que se foram em meio às idas e vindas da vida. Nada está parado, tudo segue, envelhece, fica tarde, anoitece. Depois já é amanhã, você se levanta, e já não tem mais escola pra ir e chegar atrasado. Já acabaram as ligações perguntando se você vem hoje. As coisas mudam não é mesmo? As coisas mudam porque a vida segue e você precisa caminhar de acordo com as curvas da estrada. Ainda que desçam do trem as pessoas que te fizeram feliz. E chega um dia – em que você esta arrumando a casa, ou relendo um livro, ou tipo do nada – dai bate uma enorme saudade. Uma coisa oca e escura por dentro. Como um pacote seco, esvaziado aos poucos. Digerido aos pedaços. E depois, só sobram coisas poucas. Velhos momentos. Memórias falhas. E o coração começa a bate apertado. Uma angustia amarga chega de repente e se transfigura numa lágrima incontrolada. Uma vontade de voltar no tempo e reviver aquelas risadas. Que já estão baixas, quase inaudíveis, só de tão velhas. E é bom ir se acostumando rapaz. Volta e meia à vida te trará momentos como este. Agora você ainda está verde, improprio pra ser colhido. Ainda tem muito tempo pra viver, e se tiver sorte, ainda tem muita coisa pela frente, muito tempo pra tentar não sofrer tanto... Então, guarde bem as lembranças de hoje, sempre que puder diga um “até logo”, um “me liga”, um “não me esqueça”, um “não some”... Mande uma carta, imprima uma foto, dê um livro com uma dedicatória sua. Quem sabe em algum ponto da eternidade, você reconheça a voz daquele numero desconhecido no visor do seu telefone. Quem sabe a voz que a tanto tempo te fez feliz, volte a te ligar, num dia qualquer, agora... Guarde as provas de que um dia você foi muito feliz. Guarde os nomes das pessoas, mesmos que elas esqueçam o seu. Guarde as coisas, as lembranças, as loucuras, as risadas. Guarde por dentro e por fora. Perto ou longe. Apenas guarde o que foi bom, e jogue fora o que restou.

- E, ficou apenas guardado


[...] E a gente finge que esqueceu. Finge que já não faz mais tanta diferença. Porque de certa forma, é melhor assim. Foi melhor assim. Mas, do que adianta tentar esquecer, se daqui a dois anos você vai encontrar esse certo alguém e seu peito irá pulsar do mesmo jeito que antes. Se você vai sentir tudo de novo. Ver todo seu esforço ir por água abaixo. Por mais que as pessoas tenham te ferido, por mais fundo que seja essa ferida, tentar esquecer sempre vai ser o pior caminho. É completamente o inverso de tudo. Por isso me pergunto com toda força: - E se o errado pudesse me fazer feliz? Eu teria escolhido o erro? O erro seria a coisa certa a fazer? Porque me parece que a coisa certa foi realmente a errada. A verdade é que a gente não escolhe quando vamos sentir algo por alguém. Nem quando ou como irá acontecer e muito menos quanto tempo irá durar... Essas coisas, quando você vê, já estão acontecendo. E o que vem depois, é um caminho sem voltas...

- Repito todas as manhãs

Eu continuo sorrindo... Eu continuo sorrindo... Que é pra ver se amanhã, alguém ponha um sorriso neste rosto de verdade. Eu continuo acreditando... Eu continuo acreditando... Que é pra ver se amanhã se torna mesmo realidade... Eu continuo sentindo... Continuo sentindo... Quem sabe que se de tanto imaginar sentir, eu sentirei de verdade... Eu continuo tentando... Continuo tentando... Que é pra ver se eu venço o destino pelo cansaço e ele acelere as coisas para o meu amanhã... Eu continuo esperando... Continuo esperando... Que de todas as minhas manhãs, chegue uma em que o destino te traga... E assim eu continuo vivendo... Continuo vivendo... Que é pra ver se você volta, antes que meu coração pare de bater...

"Repito todas as manhãs, como se fosse sempre a primeira vez..."

Enquanto não chega a hora

Por um breve momento parece que estamos perto, que está quase ao nosso alcance, mas alguns passos e pronto, encontraremos nosso lugar no mundo. E o engraçado é que acreditamos, fazemos isso porque sabemos o tanto que demos de nós mesmos... Só por um breve momento eu diria, já que no momento seguinte é a falta de coragem que nos invade. É pelos pés que estamos presos no mesmo lugar, é pela de falta de fé que continuamos nessa sombra e desistimos do nosso lugar ao sol. A gente trava e tem medo de continuar... Mas tudo isso não pode ser só um perde e ganha. Isso aqui não acaba no final. Só estar aqui não basta, porque se for pra ir embora sem mais nem menos, não tem graça. Tudo fica, preso neste breve momento, onde o que fizemos foi só tentar ser feliz pra poder ir embora relativamente realizados... É muito simples. Basta viver um pouco pra saber que dará certo depois que tudo der errado. Basta viver, ser, ir além. No fim das contas eu só quero dizer tenha fé, respire fundo, acalma essa pressa e volte pra casa.

- Aquele momento

Hoje foi um dia daqueles, em que antes de dormir você pensa, e repensa, e sorrir, e sente vontade de voltar, e depois sorrir de novo. A gente se diverte, com coisa pouca, ou muita, ou nos olhos dos outros quase nada. Mas a gente é feliz, mesmo que algumas horas, numa manha de domingo qualquer. Por que o que torna o momento inesquecível, não é só a paisagem, ou as risadas, ou as pessoas; é na verdade a junção de tudo. O quadro completo. Todos ali, simples, fazendo alguma coisa saudável, ou até mesmo tendo uma conversa saudável.

E acordar cedo não é nada, quando você sabe que esta acordando por uma boa causa. E assim os bons momentos ficam, e já da saudade, e você lembra, e aquele sorriso ilumina seus olhos, porque por aquele momento você foi feliz... Nós fomos felizes.

Um amor e um café...




Sentava-se à mesa com sua melhor camisa, abria um de seus velhos livros empoeirados e às vezes parava para olhar as arvores seca além da janela. Depois engolia um gole de café, que descia rasgando sua garganta, até esquentar seu estomago vazio. Este moço do interior fora proibido de ir lá fora a tarde, mas hoje ele quebraria todas as regras.

Bem que poderia se tornar um moço travesso, mal criado, cínico. Tiraria as sandálias e pularia pela janela. Porque hoje ele estava decidido a deixar aquela mascara de bom moço e sair pra se sentir vivo. Tomaria banho pelado no lago, subiria até os galhos mais altos das arvores e não teria medo de cair e se sujar. Hoje ele não estudaria a tarde toda, mas observaria a vida lá de cima. E se alguém o chamasse, certamente ele não responderia, ficaria ali até o crepúsculo do fim do dia.

Depois, ele colocaria seu melhor Jeans, arrumaria o cabelo e convidaria Joana pra tomar um sorvete na Praça da Saudade, criaria um momento romântico, pediria pra ela fechar os olhos e lhe roubaria um beijo.

E por fim, envergonhado — como de costume — fugiria pra casa correndo...

Tudo em seu lugar

Eu só queria achar uma saída pra nós dois.
Uma forma de você acreditar em mim, um jeito de mostrá-la que ainda podemos tentar.
Então, só mais um momento moça, sente aqui.
Ainda podemos conversar.
Tente me ouvir agora.
Chegue mais perto, me dá a sua mão, olha pra mim e me ouvi falar.
É real esse amor.
É bonito, é seu.
É nosso.

Acredite, ainda temos tempo

Sentir sua respiração quente e esse seu perfume me lembra muita coisa. Você estava perto o suficiente. E no último segundo você desistiu não sei porque, talvez estivesse me testando. Como se exitasse pra saber qual a minha reação. Pois bem, se você lesse meu pensamento, iria saber que era tudo que mais queria. Como não querer um beijo seu? Como não querer beijar sua boca até o oxigênio ser uma necessidade? Como não querer te levar para qualquer canto longe daqui e te devorar por inteira? Teu cheiro, teu gosto, é tudo que eu quero pra mim. Sem mais.

Algo que ficou esquecido...


Ao que parece, acho que me esqueci de uma coisa muito importante, algo que me faz uma imensa falta... Foi na primavera passada, embora meu espírito fosse o mais prelúdio inverno, que eu me mudei... 

Lembro-me de ouvir o som da porta ser fechada atrás de mim. E eu nem arrisquei olhar pra trás, pra não deixar minhas lágrimas expostas a todo mundo... Segurei minha mala pra certificar-me de que não havia me esquecido nada. E quando enfim tive certeza parti sem olhar pela janela do carro... 

E então, pouco tempo depois o intenso amanhecer se estendeu além da minha janela. Sentir a neblina opaca se dissolver em pequenos orvalhos e embalar minha visão tão melancólica que agora eu deixava escondido em meu passado emotivo... 

... E quando enfim cheguei na minha nova casa, abrir minha mala e dela comecei a tirar meus pertences... De repente tudo estava vazio, e no entanto todos os meus pertences estavam lá, revirei meu ultimo bolso que também estava vazio... E só agora, depois de todo esse tempo que eu me lembrei, de uma parte tão fundamental que ficou esquecida... 
... Meu pobre coração estava distante, esquecido a milhas e milhas daqui...

Uns sentem a chuva, outros apenas se molham. — Roger Miller.